domingo, 14 de novembro de 2010

História da Igreja: O Cristianismo na América

História da Igreja: O Cristianismo na América

Por Robert Hastings Nichols


I. AS PRIMEIRAS TENTATIVAS

A - PROTESTANTE

Os huguenotes foram os primeiros a trazer o cristianismo ao atual território dos Estados Unidos. Em 1562, um grupo deles estabeleceu-se em Porto Roial, na Carolina do Sul. Em 1564-65 outro grupo se estabeleceu nas proximidades de Santo Agostinho, na Flórida. A primeira colônia foi abandonada; os habitantes da última foram massacrados pelos espanhóis católicos de Santo Agostinho.


B - CATÓLICO-ROMANA

1. Missões Espanholas

Santo Agostinho, a mais antiga cidade dos EE. Unidos, foi fundada pelos espanhóis em 1565. Dali desenvolveu-se um extenso trabalho religioso, por muitos anos, entre os colonos espanhóis e os índios. Mas logo que a Flórida tornou-se uma possessão inglesa (1763) esse trabalho quase que desapareceu.


Muito para o oeste, os dirigentes desse trabalho de cristianização também fundaram uma sede. Em 1598, os espanhóis vindo do México organizaram uma colônia no Novo México, a qual, como todas as suas colônias, era uma estação missionária. Os índios dessa região receberam uma imediata cristianização, porém fraca. Após uma terrível rebelião dos índios, em 1680, os espanhóis restabeleceram as estações missionárias, muitas das quais ainda são católico-romanas. Essa foi a origem do antigo cristianismo da população espanhola da região sudoeste dos EE. Unidos.


As missões franciscanas da Califórnia, entre os índios, vieram muito mais tarde. A primeira, em San Diego, foi fundada em 1769, e logo depois surgiram vinte outras missões católicas. Logo no início muito prosperaram. Os índios foram agrupados em comunidades onde recebiam instrução cristã e ensinos sobre agricultura e indústria e viviam sob estrita disciplina. Quando, porém, o governo mexicano, que então governava a Califórnia, libertou-os do controle dos frades (1834), a maioria dos índios logo voltou ao paganismo.


2. Missões Francesas

Depois da fundação de Quebec em 1608, os franceses iniciaram a colonização do Canadá com entusiasmo e muita rapidez. Um aspecto notável deste esforço era o trabalho religioso. Talvez este fosse mesmo o aspecto mais destacado da política dos colonizadores. Quebec e Montreal tornaram-se importantes centros religiosos com instituições ricamente servidas pelos melhores homens e mulheres que a igreja católica francesa podia enviar. As explorações dos Grandes Lagos e do Mississipi, realizadas por La Salle (1678-1682), revelaram aos franceses a possibilidade da fundação de um grande império.


Com este pensamento lançaram uma rede de postos ou estações militares, comerciais e religiosas, desde o Golfo de São Lourenço à foz do Mississipe. Muitos missionários, a maioria constituída de jesuítas, realizaram intenso labor, muito trabalhando ambos os lados desta linha de postos avançados. Lançaram os fundamentos de vários centros de trabalho ao longo dos Grandes Lagos, no Norte de Nova York, Ohio, Michigan, Wisconsin, Illinois e abaixo do Mississipe na direção da Luisiana.


Mas todas essas brilhantes realizações dos franceses anularam-se em 1763, quando a Inglaterra tomou posse do Canadá. Desta sorte, fracassaram dois grandes planos para a fundação de um império. Qualquer desses planos que tivesse vingado teria tornado o catolicismo romano dominador supremo na América do Norte. Os fundamentos religiosos dos Estados Unidos tinham de ser lançados pelos Protestantes.


II. AS TREZES COLONIAS

A - DESDE A FUNDAÇÃO AO GRANDE REAVIVAMENTO

1. Nova Inglaterra

A primeira tentativa de colonização na Nova Inglaterra, a segunda das treze colônias, foi realizada por, motivos puramente religiosos. Pelo ano de 1600, um grupo de pessoas religiosas de Lincolnshire, na Inglaterra, ficou desgostoso com a situação da Igreja Inglesa.


Como os puritanos, elas se opunham fortemente "ao fato que, tanto no culto como no governo, vinham prevalecendo formas e usos da igreja medieval: eram diferentes dos puritanos, porque sentiam que a Igreja da Inglaterra nunca podia ser reformada de modo a ser a verdadeira Igreja de Cristo e que, por isto, deveriam abandoná-la e estabelecer uma nova igreja.


Organizaram-se então como igreja, reunindo-se para o culto em dois lugares: em Scrooby Manor e em Gainsborough. Perseguidas por esta razão, fugiram em 1608 para a Holanda. Após alguns anos decidiram ir para a América. Neste sentido entraram em entendimentos com a Companhia de Londres, uma das duas organizações às quais Tiago I doara a Virgínia, que era uma grande faixa de terra americana na costa do Atlântico.


Em 21 de Dezembro de 1620, cerca de cem desses "Peregrinos”, desembarcaram do "Mayflower" na baía do Cabo Cod. Esta foi a fundação da Colônia Plymouth. Os colonos não precisaram de se organizar em igreja pois já constituíam uma, e sua vida eclesiástica prosseguiu sem interrupção. O ministro deles ficara na Europa, mas havia um grande líder religioso entre eles, o presbítero Guilherme Brewster. O primeiro ano da colônia foi de terríveis sofrimentos, mas prosseguiu sempre crescendo sob a sábia liderança do governador Bradford.


Desde a sua chegada, os puritanos dirigiram o trabalho de modo que lhe imprimiram aquelas mudanças que desejaram ver na Igreja Inglesa. Lá na Inglaterra, sob o governo do arcebispo Laud, a partir de 1625, foram terrivelmente perseguidos por adorarem a Deus pelo modo como julgavam certo. Depois de cinqüenta anos ou mais, as coisas estavam piores do que dantes.


Desaparecera de muitos a esperança de qualquer reforma. Ouvindo falar das Colônias na Virgínia e em Plymouth, julgaram que a América seria o lugar ideal para a liberdade religiosa. A primeira colônia (1628) permanente foi em Salem, Massachusetts. Pelo ano de 1640, quinze mil colonos puritanos viviam ali, como também em Boston e noutras cidades situadas na Baía de Massachusetts.


A Colônia de Plymouth foi principalmente constituída de gente consagrada, porém de baixa extração. Mas entre os puritanos da colônia da Baía de Massachusetts havia muita gente rica, de boa posição e esmerada educação. Esta colônia era constituída de gente excepcional, tanto quanto à moral e à religião, como pela coragem e inteligência.


Dentro de poucos anos surgiram duas novas e importantes colônias de puritanos. Uma chamada Connecticut, teve início perto de Hartford (1634-1636) e foi fundada pelos emigrantes de Massachusetts. A outra, New Haven, foi fundada (1638) por gente vinda diretamente da Inglaterra.


Desde que todos os elementos dessas quatro colônias eram unânimes quanto às opiniões religiosas, desenvolveu-se entre elas o mesmo tipo de vida religiosa. Não obstante haver muitos presbiterianos entre os colonos, as igrejas que eles organizaram eram todas Congregacionais, mas em Connecticut desenvolveram-se consideravelmente as idéias presbiterianas entre as igrejas.


O culto nas igrejas era isento de liturgia e celebrado com uma simplicidade rigorosa. A pregação constituía o elemento mais destacado do culto. Os ministros eram do mais alto padrão moral e de esmerada educação. Eram as pessoas de maior influência em suas comunidades. As igrejas exerciam uma disciplina rígida sobre a conduta dos seus membros.


A religião era a força dominante na vida do povo da Nova Inglaterra. Era uma religião puritana - solidamente bíblica, espiritualmente profunda, cheia de zelo e severidade, dominando todos os aspectos da vida dos indivíduos e das suas comunidades. Providenciaram logo sobre a organização de escolas primárias e secundárias e um Colégio (Harvard foi fundada em 1636); tudo isto assegurou a continuação de um alto padrão de religião inteligente e consciente que resultou no progresso das atividades destas importantes colônias.


Nenhum bem maior poderia ter vindo à vida religiosa americana e à vida mesma em todos os seus aspectos naquele país, do que estas influências que moldaram o caráter da jovem nação que começava a existir, a influência espiritual dessas colônias da Nova Inglaterra, influência puritana, de fé, de coragem, de consciência.


Não era propósito dos puritanos estabelecerem liberdade religiosa geral. Vieram para a América a fim de alcançar liberdade para o que eles julgavam ser a verdadeira forma de religião. Pensavam que todos nas suas colônias deveriam se submeter a essa forma de religião.


As Igrejas Congregacionais foram oficialmente organizadas. Foram cobradas certas taxas ou contribuições para a manutenção dos seus ministros. Em Massachusetts e em New Haven somente membros da igreja tinham direito ao voto. Não eram permitidas reuniões de caráter religioso, nem ensinos diferentes dos ministrados nas igrejas.

Os Batistas e os Quakers foram perseguidos. Quatro destes últimos experimentaram o martírio (1659-1661). Para o fim do século XVII começou a prevalecer melhor espírito de tolerância e desapareceram as perseguições.


A intolerância dos puritanos de Massachusetts deu lugar à fundação de Rhode Island. Roger Williams, um ministro mui instruído, eloqüente e de inteligência excepcional, foi banido de Massachusetts em 1635, por motivo de oposição política e certas declarações de caráter religioso. Acompanhado de alguns aliados estabeleceu-se em Providence. Tendo seguido os princípios batistas, organizou ali a Primeira Igreja Batista do Novo Mundo, em 1639.


Outros exilados por motivos de perseguição fundaram seus lares perto da Baía de Narragansett. Além dessas, foram organizadas a colônia de Rhode Island e Providence. Nestes lugares prevaleceu, desde o princípio, absoluta liberdade religiosa. O agrupamento religioso mais forte foi o dos batistas.


2. As Colônias do Centro

A colônia de Nova Holanda, depois Nova York, era simplesmente uma empresa comercial da Companhia Holandesa das índias Ocidentais. Os primeiros colonos, não sendo da melhor gente da Holanda, não demonstravam muito interesse nem aquele zelo religioso característico dos holandeses. Também a Igreja reformada da Holanda interessou-se pouco pela situação espiritual da colônia.


Nesta época foi organizada uma igreja reformada na ilha de Manhattan em 1628, quinze anos depois da fundação da primeira colônia. Não havia, porém, um ministro residente antes de 1633. Foi quando se construiu um templo de madeira e, em 1642, um de pedra e cal. Foi dessas origens que surgiu a grande Igreja (Holandesa) Reformada dos Estados Unidos. Ela demorou bastante para se tornar uma igreja vigorosa. Em 1660, quando havia dez mil habitantes nesta cidade, a Igreja já possuía seis ministros reformados.


Já nesse tempo, Nova York ou Nova Amsterdam como era então chamada, era uma cidade cosmopolita. Além de holandeses havia na cidade povos de muitas nações que tinham as mais diferentes organizações religiosas, pois o governo holandês permitiu ampla liberdade de culto. Havia huguenotes, puritanos da Nova Inglaterra, presbiterianos, escoceses, luteranos suecos e alemães, católicos-romanos e judeus.


A colônia tornou-se uma possessão inglesa em 1664. Embora o governo inglês não interferisse na Igreja Holandesa, todavia introduziu a Igreja Anglicana e a favoreceu. Esta foi a origem da poderosa Igreja Episcopal Protestante da cidade de Nova York. A Igreja da Inglaterra, contudo, não desenvolveu muita atividade por essa época. Por isso no início do século XVIII a vida religiosa de Nova York era débil.


A cidade de Nova Jersey teve na sua população primitiva diferentes elementos religiosos. Alguns tinham-se estabelecido ali antes de ela tornar-se uma possessão inglesa (1664). Depois certa gente selecionada da Nova Inglaterra veio habitar o leste da cidade; a maior parte desse grupo era presbiteriano. Depois um grande grupo de presbiterianos escoceses, deixando o seu país durante os "Tempos do Massacre" ("Killing Times"), fundou seus novos lares nesta região.


Os primeiros habitantes da parte ocidental da cidade que moravam principalmente em Camden e em Trenton, foram os Quakers. Durante o reinado de Carlos II (1660-1685) treze mil Quakers foram lançados na prisão e trezentos e trinta e oito morreram no cárcere como resultado dos ferimentos recebidos nos assaltos às suas reuniões.


Perseguidos na sua terra, vieram para a América porque vários deles que eram ricos, entre os quais Guilherme Penn, adquiriram terras e as ofereceram como um refúgio aos seus irmãos europeus (1676). Penn, um líder entre os Quakers, recebeu em 1681, de Carlos II da Inglaterra, uma grande faixa de terra na América. Ali fundou Penn uma colônia, para refúgio de seus companheiros de religião e também como empresa comercial.


Seu "Sistema de Governo" assegurava plena liberdade religiosa e civil, e oferecia terra a preços muito módicos. Dentro de poucos anos, milhares de Quakers ingleses e do país de Gales, gente do mais nobre caráter e profunda piedade, o melhor tipo de colonos, vieram para a Pensilvânia. Em 1700, a população era de vinte mil. E Filadélfia, fundada em 1682, já era uma cidade florescente.


A Liberdade religiosa da colônia de Penn atraiu outras pessoas perseguidas, além dos Quakers. Muitos membros de várias seitas alemãs que estavam sendo perseguidos por suas crenças religiosas, sendo a maioria constituída de menonitas e Dunkers (anabatistas), chegaram no começo do século XVIII. Um número ainda maior, de vários milhares, chegou em 1710, vindo do Palatinado (região do Reno).


Esta região tinha sido, pelos franceses e seus camponeses, reduzida à mais abjeta miséria em virtude de os huguenotes terem ali estabelecido os seus lares. Esta gente do Palatinado era constituída de membros da primitiva Igreja Reformada Alemã, Depois destes, muitos emigrantes alemães, inclusive muitos luteranos, vieram à Pensilvânia, não fugidos de perseguições, mas à procura de melhores condições de vida.


O território de Maryland fora doado por Carlos I, em 1634, a George Calvert, Lord Baltimore. Por muitos anos a colônia foi dirigida por ele e seus descendentes como uma empresa comercial. Os Calverts eram Católicos romanos liberais. Em parte, a fim de atrair elementos para a sua colônia, eles adotaram uma política de liberdade religiosa, desde o começo.


Dois Jesuítas vieram com os primeiros colonos e foram os primeiros padres romanistas que se estabeleceram nas treze colônias. A grande maioria desses colonos, todavia, era constituída de ingleses protestantes. Mais tarde vieram os puritanos presbiterianos expulsos da Virgínia, os Quakers e os presbiterianos irlandeses-escoceses, elementos esses que constituíram a guarda avançada da grande imigração desses povos. Algumas das igrejas do primeiro Presbitério, o de Filadélfia, organizado em 1706, estavam em Maryland.


Quando Maryland se tornou uma colônia real (1691), a Igreja Anglicana foi estabelecida. Foram recolhidos impostos para a sua manutenção e os que se opunham a isto eram privados dos direitos civis. Seu clero era muito inferior, e como força religiosa, era de pequena expressão.


3. O Sul

O primeiros colonos da Virgínia e das treze colônias (1607), não obstante não representarem numericamente um grupo respeitável, tinham, entre eles, um ministro evangélico digno da sua vocação. Este homem, Roberto Hunt, clérigo da Igreja Inglesa, dirigiu os trabalhos até sua morte. Assim, desde o começo, a Igreja Anglicana estabeleceu-se na Virgínia e permaneceu como a igreja da colônia. Contudo, nos primeiros anos, foi o elemento puritano da igreja inglesa que exerceu maior influência no governo da Virgínia.


Mas em 1631 foi indicado um governador que odiava o puritanismo e perseguiu os puritanos, expulsando a muitos deles. Além disso, o povo geralmente era muito diferente dos puritanos quanto ao caráter, especialmente quando começou a grande imigração de Cavalier. Depois da morte de Carlos I, milhares de ingleses que ficaram do seu lado contra o puritanismo, vieram para a Virgínia.

Na colônia exigia-se estrita conformidade com a Igreja da Inglaterra. Mas a igreja estava organizada e mantida com os impostos. Tinha uma vida religiosa débil porque os seus ministros, enviados da Inglaterra, eram de pouca influência na vida do povo. Nos começos do século XVIII, as condições religiosas eram muito desfavoráveis.


Em ambas as Carolinas, a do Norte e a do Sul, que foram colonizadas na última parte do século XVII, foi estabelecida a Igreja Inglesa. Mas na Carolina do Norte ela nunca veio a ser muito forte, e na do Sul representava somente uma pequena parte da população. Em ambas as colônias, os evangelistas Quakers, entre os quais estava o famoso George Fox, realizaram notável trabalho ao fim daquele século. Ambas as Carolinas receberam mais tarde grupos de pessoas portadoras da mais profunda vida religiosa — os huguenotes, suíços, alemães e escoceses-irlandeses, na Carolina do Norte; e Huguenotes escoceses e dissidentes ingleses, na Carolina do Sul.


Nenhuma das colônias teve uma origem cristã mais distinta do que a Georgia, fundada em 1733. O general Oglethorpe, filantropo inglês muito jovem, planejou a colônia como refúgio para as vítimas das leis injustas e de perseguição. A primeira gente a chegar foi um grupo de prisioneiros trazidos por ele, e um grupo de luteranos exilados vindo do arcebispado de Salsburg.


B - DESDE O GRANDE REAVIVAMENTO À GUERRA DA INDEPENDÊNCIA. 1728-1775 A. D.

O começo do século XVIII foi assinalado por um enfraquecimento religioso e moral nas colônias. Na Nova Inglaterra, esta condição era tão palpável que provocou muita tristeza e lamentação. Aquela convicção arraigada e aquele zelo da primeira geração de puritanos não se manifestaram nos seus descendentes, que não tinham tido a experiência inspiradora da vinda a uma nova terra à procura de liberdade religiosa.


As igrejas requeriam para admissão no rol de membros, o testemunho de uma experiência religiosa que poucos podiam alcançar. Razão por que somente uma minoria podia ser membro da igreja. A pregação mais comum salientava a inabilidade do homem para se aproximar de Deus e isto levou muitos ao desânimo.


Já vimos qual era a situação em Nova York. Na Pensilvânia, o Quakerismo, a forma religiosa dominante, tinha perdido muito do seu entusiasmo e ardor evangélico, talvez por motivo da grande prosperidade material. Em Maryland e na Virgínia, a Igreja Anglicana oficializada tinha pouco vigor.


Por essa época de desânimo veio o "Grande Reavivamento". Jonathan Edwards, jovem de extraordinários dons espirituais e grande poder intelectual, era pastor em Northampton, a primeira cidade de Massachusetts, depois de Boston. Em 1734, ele começou a pregar com poder extraordinário, procurando levar os ouvintes ao arrependimento e à fé.


Northampton foi verdadeiramente revolucionada e o reavivamento se espalhou pelas cidades vizinhas, de Massachusetts a Connecticut. Pouco antes disso, houve coisa parecida, embora fosse um movimento menos importante, em Nova Jersey.


Gilbert Tennent, pastor da Igreja Presbiteriana de New Brunswick, em 1728, começou a pregar de um modo que inspirou vitalidade espiritual à sua própria igreja e a outras nas circunvizinhanças. De 1739-1741, houve um reavivamento entre os puritanos e os presbiterianos escoceses de Newark.


Na Virgínia, apareceu um reavivamento espontâneo, sem pregação especial, como resultado da leitura de livros religiosos. Contribuiu para ele o trabalho de evangelistas presbiterianos e batistas. Enquanto esta nova vida espiritual ia se desenvolvendo em muitos lugares das colônias, o eloqüente George Whitefield veio fortalecer o movimento.


De 1739-1741 e de 1744-1748, ele pregou ao longo da costa, desde a Georgia ao Maine, conseguindo enormes auditórios e produzindo uma impressão espiritual profunda. Suas viagens foram seguidas pelo trabalho evangelístico que se espalhou na Nova Inglaterra, na região de Jonathan Edwards e outros ministros notáveis que lideravam esses trabalhos.


As populações das colônias foram todas abaladas e influenciadas por esse poderoso despertamento religioso. O número de membros das igrejas aumentou consideravelmente e foram organizadas muitas novas igrejas. As denominações congregacionais, presbiterianas e batistas muito cresceram em número e poder.


Surgiu o interesse missionário a favor dos índios. Davi Brainard realizou uma obra bem influente, embora fosse de pouca duração, a favor dos índios. Este trabalho foi resultado direto do reavivamento. O Reavivamento preparou as igrejas americanas para suportarem uma época de provações que veio logo depois. Por quarenta anos desde o início da guerra entre a França e os índios, em 1745, o povo das colônias ficou absorvido pela guerra, de um modo muito intenso, por toda esta época de agitações políticas e de guerra. A religião muito sofreu e teria sofrido muito mais se não fosse a preparação espiritual do povo, resultante do Reavivamento.


Enquanto prosseguia o Reavivamento, chegaram para as colônias muitos milhares de pessoas que vieram a exercer grande influência na história americana, tanto no aspecto religioso como sob outros aspectos: os escoceses-irlandeses. Houve dois grandes movimentos imigratórios : o primeiro, de 1713 a 1750; e o segundo, de 1771 a 1773. A maioria deles veio para as colônias centrais que formaram a linha mais avançada do país.


Muitos outros se estabeleceram na Pensilvânia e outros ainda se dirigiram para o sul, ao longo dos montes Apalaches para o oeste da Virgínia e da Carolina. Todos eles eram presbiterianos, muito fiéis e ligados às suas igrejas. Era gente de piedade e grande zelo, caráter forte e alto senso de independência.


Os alemães da Pensilvânia não foram alcançados pelo Reavivamento devido à barreira da língua. Em 1741, o Conde Zinzendorf visitou os moravianos daquela colônia, organizou-os eclesiasticamente e os encorajou à obra missionária, tanto entre os brancos como entre os índios. Verificando que havia milhares de alemães de várias seitas sem assistência religiosa, ele procurou trazê-los a um tipo de unidade religiosa. Este plano despertou o zelo sectário dos alemães em seu próprio país. Os Luteranos da Alemanha enviaram Henrique Muhlenberg que organizou os luteranos da Pensilvânia em Igrejas e Sínodos.


A Igreja Reformada da Holanda enviou Miguel Schlatter que realizou trabalho idêntico entre os alemães reformados daquela colónia.


O movimento metodista chegou à América em 1766. Naquele ano Felipe Embury que tinha sido pregador metodista na Irlanda, começou a pregar em Nova York. A partir dessa época, as sociedades metodistas multiplicaram-se e se desenvolveram rapidamente. Em 1771, Francisco Asbury foi indicado por Wesley para dirigir o metodismo americano. Sua capacidade de liderança, o seu zelo incansável e a cooperação dos seus colegas de ministério deram lugar a um crescimento muito rápido, mesmo durante o período de guerra e de lutas políticas. A força maior desse movimento, nesse tempo, estava no sul.


E comum ouvir-se dizer que a guerra pela independência das colônias surgiu da disputa sobre impostos. Mas o sentimento religioso muito contribuiu para o anseio de se libertarem dos laços do governo britânico. Os congregacionais e presbiterianos constituindo a maioria do povo, temeram que o governo britânico em breve estabelecesse a igreja oficial em todas as colônias, e de fato, já estava estabelecida em algumas, e exigisse de todos os habitantes a obediência à autoridade dessa igreja.


Visto como seus pais tinham vindo para a América a fim de fugirem exatamente de uma situação semelhante os descendentes nenhum desejo tinham de se submeter a essa exigência. Este sentimento contribuiu muito mais para o desejo de independência do que a geral indignação contra o Ato do Selo e outras medidas que impuseram os vários impostos.


III. OS ESTADOS UNIDOS

A - RECONSTRUÇÃO E REAVIVAMENTO APÓS A GUERRA DA INDEPENDENCIA

Todas as igrejas muito sofreram durante a guerra. Muitos dos seus membros morreram na luta e muitos outros sofreram moralmente com a vida militar. Em muitos casos, igrejas foram dispersas, seus ministros expulsos e os templos destruídos. Em virtude de os congregacionais e presbiterianos serem solidamente defensores da independência, seus ministros e igrejas eram os objetivos especiais do ataque dos britânicos.


De um modo geral a vida religiosa foi muito enfraquecida como sempre acontece durante e depois de uma guerra. A incredulidade e a indiferença religiosa se espalharam. O espírito anti-religioso da Revolução Francesa teve influência considerável, especialmente por causa do auxílio que a França prestou aos americanos durante a guerra. Durante as duas décadas seguintes o cristianismo americano teve menos vitalidade do que em qualquer outra época da sua história.


Apesar de tudo, o nascimento da nova nacionalidade demandava a reorganização das igrejas. A Igreja Anglicana das colônias eliminou sua ligação com a Igreja mãe, da Europa, e tomou o nome de Igreja Episcopal Protestante. O metodismo americano também se tornou independente e ao mesmo tempo consagrou seus primeiros superintendentes ou bispos, Thomas Coke e Asbury.


O Sínodo Presbiteriano tornou-se a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América. Os congregacionais da Nova Inglaterra fundaram suas associações nacionais. A Igreja Católica Romana, que tinha, então, dezoito mil membros apenas, foi colocada sob a direção de um prefeito apostólico. americano que logo foi feito bispo.


Um dos maiores benefícios já alcançados pelo cristianismo na América foi a decisão tomada pela organização do governo dos Estados Unidos com relação à política religiosa do governo. A primeira emenda à Constituição (1791) determinava que não haveria religião reconhecida pelo Estado. O princípio da nova nacionalidade seria, em outras palavras: "uma Igreja livre num Estado livre".


A profunda fraqueza religiosa que se seguiu à guerra foi totalmente modificada em virtude de uma série de despertamentos que atingiu grande parte do país pelos fins do século XVIII e no início do século XIX. Em muitos lugares surgiu nova vida espiritual que se irradiou com muita força. Não havia líderes de notabilidade como no primeiro grande Reavivamento. As pregações eram realizadas, na maioria dos casos, pelos próprios pastores residentes nas cidades.


Este movimento foi duradouro, pois em algumas regiões os reavivamentos foram se sucedendo por uma geração. Foi mais acentuado na Nova Inglaterra, em Nova York e Ohio, que estavam sendo colonizadas por gente de Nova Inglaterra, como também foi notável no Kentucky e no Tennessee. Poucas foram as regiões do país que deixaram de sofrer sua influência.


Os reavivamentos fortificaram bastante, e em caráter permanente, a vida religiosa do país. Deram início a um longo período de atividade religiosa verdadeiramente agressiva. Foi de grande necessidade este fortalecimento das igrejas americanas em vista das grandes responsabilidades que tiveram de enfrentar com o desenvolvimento da nação.


B - O SÉCULO XIX ATÉ 1830

Ao iniciar-se o novo século chamam-nos a atenção alguns resultados definidos desses reavivamentos. As igrejas tiveram aumentado o número de seus membros. Em 1830, os metodistas eram sete vezes mais do que em 1800; os presbiterianos, quatro vezes mais; os batistas, três vezes mais e os congregacionais, duas vezes mais, apesar das grandes perdas provocadas pelo movimento Unitariano.


Surgiram vários novos grupos religiosos. Um, que tomou o nome de "Discípulos", foi formado por pessoas que tinham sido influenciadas pelos reavivamentos do oeste da Pensilvânia, da Virgínia e do Kentucky. Estes "Discípulos" repeliam as igrejas existentes porque elas tinham "credos humanos"; pregavam a união de todos os cristãos em bases unicamente bíblicas.


O nome que usavam era um protesto contra o denominacionalismo. A Igreja Presbiteriana de Cumberland foi fundada por ministros e gente residentes no Kentucky, eliminados da Igreja por causa das condições criadas pelos reavivamentos.


O aparecimento da corporação religiosa Unitariana foi, em um sentido, um dos resultados dos reavivamentos, porque eles salientaram certas diferenças teológicas que desde muito existiam no oeste do Massachusetts. Alguns ministros congregacionalistas e muitos leigos rejeitavam o ensino extremado relativo à pecaminosidade da natureza humana, do modo como era comumente ouvido nos púlpitos da Nova Inglaterra, e também negavam a divindade de Cristo.


No início do século, o campo religioso ficou dividido entre Unitarianos e Trinitarianos . Cerca de cem igrejas, perto de Boston, tornaram-se unitarianas. O movimento universalista surgiu por esse tempo na Nova Inglaterra e em outros lugares. Um poderoso movimento missionário nacional resultou dos reavivamentos. A população ia avançando para o oeste com muita rapidez. As igrejas enviaram muitos pregadores às novas colônias. Congregacionalistas e presbiterianos trabalhavam unidos no norte, isto é, na parte central e ocidental de New York e Ohio.


Os presbiterianos eram ativos na Pensilvânia, Virgínia, Kentucky e Tennessee. Os batistas e metodistas eram os mais eficientes evangelistas dentre todos, alcançando toda a fronteira, mais acentuadamente no sul e no sudoeste.


Surgindo na Inglaterra o movimento das Missões Estrangeiras, logo encontrou correspondência de sentimentos no cristianismo recém-vivificado da América. Samuel Mills, de Connecticut, tem a honra imperecível de ser o pioneiro do cristianismo americano no campo das missões mundiais. Ele foi o líder dos cinco estudantes do Colégio Williams que se diz terem considerado, numa reunião de oração em Haystack, o apelo em favor da evangelização de terras estrangeiras. ele também foi o líder dos "Irmãos", uma sociedade de voluntários pró evangelização dos pagãos, organizada no Colégio Williams, em 1808.


Os "Irmãos" foram todos ao Seminário Teológico de Andover, onde conseguiram a adesão de Adoniram Judson. O pedido que fizeram à Associação Congregacional de Massachusetts, relativamente ao sustento e orientação para os seus propósitos missionários, deu lugar à organização, em 1810, da Junta Americana de Enviados às Missões Estrangeiras. Esta Junta foi a princípio composta de Congregacionalistas da Nova Inglaterra, mas em 1812, incluiu vários membros presbiterianos e por muitos anos foi uma organização de ambas as denominações, de missões estrangeiras.


Em 1812, a Junta Americana enviou cinco missionários à índia. Durante a viagem, Judson e Lutero Rice aceitaram os pontos de vista batistas, do que resultou se separarem dos demais. Judson foi para Burma a fim de realizar ali a sua grande obra; e Rice voltou à América para inculcar nos batistas a visão da obra das missões. Sua atividade resultou na formação da Sociedade Missionária Batista, em 1814. Dentro de poucos anos, outras igrejas americanas alistaram-se: a Episcopal Protestante, a Reformada Holandesa e a Episcopal Metodista.


As Escolas Dominicais, segundo o modelo de Robert Raikes, de auxilio às crianças desprotegidas, e também de educação religiosa, apareceram nos Estados Unidos antes de 1790. Os reavivamentos desenvolveram este trabalho. A primeira Escola Dominical do tipo moderno, isto é, escola na igreja para ministrar ensino religioso, parece ter sido organizada em Pittsburgh, em 1800.

Durante a década iniciada em 1810, o novo impulso das igrejas deu origem à organização de muitas Escolas Dominicais desse tipo. Desde essa época, esta instituição tornou-se reconhecida como uma parte necessária e integral da vida da igreja. O fortalecimento deste trabalho resultou na organização da Associação das Escolas Dominicais da América, em 1824.


O tradicional interesse das igrejas americanas em matéria de educação foi desenvolvido pelas necessidades educacionais do Oeste e pela vida religiosa sempre crescente dessas igrejas. A fundação de colégios foi uma parte importantíssima da obra missionária nacional dessas igrejas, especialmente as Congregacionais, Presbiterianas e Episcopais.


"Dos quarenta colégios e universidades permanentes estabelecidos nos Est. Unidos entre os anos de 1780 e 1829, em todas as regiões do país, treze foram organizados e fundados por presbiterianos; quatro, pelos congregacionalistas; um, pelos dois grupos em cooperação; seis, pelos episcopais; um, pelos católicos; três, pelos batistas; um, pelos reformados alemães, e onze pelos Estados; e das instituições oficiais, quatro foram iniciadas pela influência presbiteriana".


Outro resultado educacional dos reavivamentos foi o estabelecimento de escolas para o preparo ministerial, seminários teológicos, para fazer face às exigências de um número maior de ministros bem preparados. O Seminário Teológico de Andover foi fundado em 1808 pelos congregacionalistas de Massachusetts. Durante os dezoito anos seguintes, foram estabelecidos quinze outros seminários por oito denominações.


Após o período do reavivamento nos quinze anos que abrangeram o início do século XIX e o "segundo Reavivamento", esses departamentos religiosos se tornaram freqüentes em várias partes do país, de 1810 em diante. Eles foram mais poderosos durante o decênio seguinte na Nova Inglaterra e em Nova York. A sua pregação resultou no mais poderoso movimento de revivificação religiosa jamais visto na cidade de Rochester, em 1830-31, a qual se estendeu por todo o norte, desde a Nova Inglaterra, até o Ohio. Esse movimento resultou em extraordinário crescimento espiritual e moral, como veremos.


C - 1830-1861
Cerca de 1830, surgiram na vida nacional modificações que afetaram a vida religiosa nos seus mais importantes aspectos. Entre 1830 e 1860 foi grande imigração européia. Por este motivo e por causa do avanço para o Oeste, houve rápido desenvolvimento no vale do Mississipe.


Foram anexados novos Estados, cresceu a população. A vida foi organizada. A força política do Oeste surgiu ao tempo do presidente Jackson. A indústria desenvolveu-se extraordinariamente e novas estradas de rodagem, estradas de ferro e canais foram construídos.


A luta contra a escravatura intensificou-se, orientando-se para a crise que surgiu depois de 1850. Contatos mais aproximados com a Europa trouxeram novas ideias políticas, sociais e religiosas. Alguns pensamentos religiosos modernos surgiram mesmo, na América. Tudo isto contribuiu para que este período fosse agitado, cheio de controvérsias e modificações, numa fermentação incansável de lutas dos mais variados aspectos.


Por esta época as igrejas protestantes levaram à execução uma vasta obra de Missões Nacionais. Surgiram novas igrejas e colégios evangélicos através de todo o vale do Mississipe, como também em outras regiões mais para o Oeste. O lançamento dos alicerces cristãos da sociedade neste enorme território, com suas imensas possibilidades, em poucos anos, é uma das maiores realizações da história cristã.


As igrejas alcançaram aquela visão que Lyman Beecher expressou nestas palavras quando, em 1832, deixou sua posição da mais avançada liderança religiosa no Leste para ser o diretor do novo Seminário Lame, em Cincinnati: "Plantar o cristianismo no Oeste (americano) é uma tarefa tão grande quanto seria plantá-lo no Império Romano, porém com maior permanência e poder".


Um resultado religioso direto da imigração foi o crescimento extraordinário da Igreja Católica Romana. Neste período ela multiplicou por dez o número dos seus membros, que subiu a mais de três milhões de pessoas e alcançou também uma poderosa influência correspondente. As igrejas luteranas aumentaram grandemente em número por causa da imigração alemã e escandinava.


Também durante esse tempo as controvérsias perturbaram a vida de muitas igrejas e provocaram divisão na igreja presbiteriana. A obra conjunta de presbiterianos e congregacionalistas nas missões nacionais trouxe para a igreja presbiteriana muitos precedentes congregacionalistas da Nova Inglaterra.


Daí terem-se espalhado consideravelmente as idéias teológicas que divergiam dos antigos postulados presbiterianos. Surgiram dois partidos: o progressista e o conservador. O primeiro, favorável às novas idéias e pronto para adaptar a sua organização às novas necessidades. O segundo ficou sustentando os antigos padrões tradicionais, tanto em doutrina como em governo.


Houve um rompimento em 1837. Duas igrejas, a da Escola Nova e a da Velha Escola, separados desde 1838, reuniram-se em 1869. Na Igreja Episcopal Protestante, uma controvérsia entre a "Alta Igreja" e a "Igreja Baixa", que surgira a partir de 1810, tornou-se bastante aguda neste período. Não obstante, esta igreja alcançou algum progresso e tomou posição para se tornar uma das principais entre as igrejas americanas.


A escravidão, sendo um assunto quase obrigatório, teve de afetar o pensamento das igrejas, como de toda a gente. Cerca do ano 1800, as igrejas, tanto as do Norte como as do Sul se opunham à escravidão, Isto é, como opinião geral. Foi quando uma modificação de caráter econômico provocou uma transformação. A invenção da máquina de fiar, que apareceu pouco antes de 1800 fez desenvolver enormemente a plantação de algodão, de sorte que no sul apareceu uma era de grande prosperidade.


A escravidão que era um meio de desenvolver a cultura do algodão tornou-se menos combatida e até mesmo defendida por muitos. As igrejas do Sul cessaram a sua oposição. No Norte, onde não havia escravidão, surgiu um sentimento anti-escravagista dentro das igrejas, embora não muito profundo ainda.


Em 1830, verificou-se outra mudança. O sul ficou determinado a manter e a estender a escravidão e as suas igrejas procuraram encontrar na Bíblia aprovação divina para, a escravatura. No norte, a oposição cresceu e as igrejas começaram a tomar a liderança deste movimento, embora não fossem todas unânimes. O poderoso reavivamento de 1830-31, resultante do trabalho de Finney, ficou ao lado da propaganda abolicionista, fortalecendo-a.


A partir de 1840, as igrejas do Norte aumentaram sua convicção de que era um grande mal a escravidão e resolveram lutar por extingui-la. Os batistas e metodistas dividiram-se, tanto no Norte como no Sul (1844-45) e noutras regiões onde habitavam. A Lei do Escravo Fugitivo de 1850, e o Ato Kansas-Nebraska, de 1854, conduziram o povo cristão do Norte a uma oposição muito forte contra a escravidão. A liderança das igrejas teve uma parte decisiva no propósito abolicionista do Norte.


As bebidas alcoólicas constituíram outra questão social, que as igrejas levantaram. No começo do século XIX, este mal dominava terrivelmente em todas as camadas sociais. A partir de 1810, houve um despertamento da consciência cristã neste sentido. Depois de 1820, teve início o movimento que continuou muito forte por vinte anos. Este foi um trabalho exclusivamente das igrejas, tanto dos ministros como dos membros. E foi muito mais forte após o reavivamento de 1830-31.


O objetivo desse movimento era acabar com todos os hábitos sociais que, praticamente, envolvessem o uso de bebidas alcoólicas e, assim, assegurar a abstinência individual; primeiro, de bebidas fortes; depois, de todas as bebidas que_ contivessem qualquer quantidade de álcool. Resultado foi que a embriaguez foi materialmente reduzida, houve regeneração de costumes e a quase totalidade das igrejas americanas tomou uma posição definida sobre essa questão. Após dez anos mais de grande prosperidade e intensa atividade comercial, veio, em 1857, uma queda econômica e tempos bastante difíceis.


Logo apareceram sinais de um despertamento religioso nas reuniões de oração, na cidade de Nova York, promovidas pelos leigos. Aqui teve início um reavivamento que se estendeu de Boston até Omaha, e, no Sul, até Washington. Em toda a parte este movimento apareceu como em Nova York: nos cultos de oração dos leigos.


Foi um movimento espontâneo sem organização ou evangelistas notáveis; dependia mais das orações do que de pregações e foi profundo e frutífero no seu caráter e resultados. Centenas de milhares de pessoas convertidas neste movimento se filiaram às igrejas. Os crentes leigos foram impulsionados ao serviço religioso como nunca na história da igreja. As igrejas foram assim fortalecidas para enfrentarem as duras provações da Guerra Civil.


D - 1861-1890

Durante a guerra civil as igrejas do Norte unanimemente apoiaram a causa do governo federal. Foram a isto influenciadas por um motivo novo, a preservação da Unidade Nacional, em adição ao velho motivo da abolição da escravatura. Com base nestas idéias a guerra foi considerada uma luta cujos objetivos estavam em harmonia com a vontade de Deus e portanto devia ter o apoio das igrejas. As igrejas do Sul estavam igualmente convencidas da justiça da causa sulista e prestaram a esta apoio idêntico.


A separação entre o Norte e o Sul motivou unicamente uma divisão eclesiástica na Igreja Presbiteriana da Velha Escola, a qual tinha membros, tanto nortistas como sulistas. Em 1861, o grupo sulista desta igreja separou-se e formou a Igreja Presbiteriana nos Estados Confederados da América, a qual depois da guerra veio a ser a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Na Igreja Protestante Episcopal as dioceses do Sul saíram da comunhão com as do Norte, mas não houve divisão.


Após a guerra, a nação, no Norte e no Oeste, conseguiu um avanço com um novo e extraordinário poder. Os recursos ilimitados do país, as vastíssimas terras devolutas do Oeste, as urgentes necessidades da vida nacional provocadas pela guerra, as grandes esperanças do povo, combinaram-se para inaugurar uma era de grandes realizações e prosperidade. O pânico de 1873 não alterou o caráter geral desses tempos.


As igrejas participaram das atividades gerais. Foram prósperas no serviço social cristão e para tal tinham a energia espiritual e as riquezas do povo. As próprias igrejas participaram do otimismo geral. Os negros do Sul foram um novo campo em que as igrejas trabalharam ativamente, fundando novas igrejas, escolas e grandes instituições. As missões nacionais floresceram com mais vigor do que dantes, no Oeste, que agora já era o "Oeste-longínquo" (Far-West).


Novos colégios e seminários teológicos surgiam rapidamente. As missões estrangeiras, a partir de 1870, experimentaram um reavivamento mundial que coincidiu com o espírito e prosperidade das igrejas americanas. A união, em 1869, das igrejas Presbiterianas da Nova e da Velha Escola foi um grande estímulo para outras atividades religiosas.


Eram freqüentes os reavivamentos. D. L. Moody estava no apogeu do seu trabalho evangelístico, e as igrejas cresciam em número. Talvez o mais significativo de tudo isto foi o crescimento marcante da liderança e do trabalho leigo. Isto se manifestou de modo especial nas Escolas Dominicais, onde surgiu um grande desenvolvimento do trabalho e a aplicação de novos métodos.


As Associações Cristãs de Moços então organizadas por todo o país, eram muito ativas. As mulheres assumiram uma liderança maior por intermédio das Auxiliadoras Femininas que muito fizeram em prol da causa missionária e outras. O movimento da Mocidade surgiu com a primeira "União de Moços Cristãos Evangélicos", em 1881, a qual, naquela década se desenvolveu muito rapidamente.


E - 1890- 1929

Modificações importantes na vida nacional que ocorreram antes e depois de 1890 afetaram vitalmente a religião e as igrejas. Além disso, surgiram idéias religiosas avançadas. As mudanças na vida nacional foram: um aumento extraordinário de imigração, que desta vez procedeu mais do leste e do sul da Europa do que do ocidente, como se verificara dantes; uma expansão industrial que superou a qualquer coisa jamais conhecida na América; um rápido desenvolvimento das cidades provocado pela imigração e pela indústria e um conseqüente declínio da população rural; o desaparecimento de fronteiras, dificuldade que tinha existido através de toda a história americana; conflitos mais agudos e em maior número entre empregados e empregadores.


As novas condições de vida das populações tiveram um efeito direto sobre as igrejas. Muitas igrejas na cidades, sentindo-se cercadas de pessoas para as quais elas eram estranhas, mudaram-se para outras localidades. Algumas modificaram seus métodos para alcançarem as "pessoas das vizinhanças. Muitas igrejas das vilas e do interior ficaram seriamente enfraquecidas por causa da emigração dos seus membros para as cidades. Ganharam terreno novos métodos de estudos bíblicos e uma nova concepção quanto à inspiração da Bíblia. As ciências naturais, com seus ensinos sobre a origem da terra e do homem, alteraram o pensamento religioso de vários modos.


Apesar desses fatores de desordem, as igrejas protestantes estiveram em grande atividade, a partir de 1890 e nos começos do século XX. As igrejas viam crescer o rol dos seus membros, eram freqüentes as campanhas evangelísticas, o movimento da mocidade estava em plena efervescência, as missões nacionais e estrangeiras avançavam vigorosamente.


Os anos de 1900 a 1915 têm sido chamados a "era das cruzadas", em virtude dos empreendimentos organizados amplamente entre as igrejas, tais como: o Movimento Missionário dos Leigos e o Movimento para o Avanço Religioso, etc. A primeira guerra mundial provocou um declínio das atividades religiosas. Mas as igrejas, como um todo, contribuindo para a causa da guerra, tiraram de transferir para as causas dessa mesma guerra muitas das suas energias.


Logo depois do conflito veio a maior das "Cruzadas", o Movimento Mundial Inter-Eclesiástico. Concebido em vasta escala, este movimento promoveu auxílio adequado a todos os empreendimentos cristãos e oportunidade de serviço cristão onde quer que fosse necessário. Tal planejamento arrojado, porém, não tinha sido delineado sabiamente e por isso resultou em desilusão, por causa da situação de egoísmo que persistiu de 1920 em diante. Não obstante este período de dificuldades, as atividades eclesiásticas seguiram as mesmas linhas e com a mesma força até 1929.


Vários novos aspectos da vida da igreja neste período merecem destaque. O Movimento da Unidade Cristã tornou-se mais forte na América do que no resto do mundo cristão. O Concílio Federal das Igrejas de Cristo na América, organizado em 1908, reuniu a maioria das igrejas cristãs para uma cooperação e desenvolveu a sua influência. Surgiram nos Estados muitas federações de igrejas, como também em certas regiões e cidades. Isto contribuiu para fortalecer a obra interdenominacional.


Houve várias uniões de igrejas, sendo a mais importante a união da Igreja Presbiteriana U.S.A. com a Igreja Presbiteriana de Cumberland em 1906, e a Organização da Igreja Luterana Unida em 1918. As igrejas americanas estavam na liderança do movimento ecumênico.


A partir de 1900, houve um constante crescimento do Cristianismo Social, isto é, uma nova compreensão da parte do povo cristão com relação às condições sociais e econômicas; uma nova concepção acerca dos males sociais; a convicção de que a justiça social era da vontade de Deus e que, portanto, a Igreja Cristã deveria lutar por alcançar aquele propósito.


Isto apareceu claramente numa longa série de declarações sobre questões sociais, "credos sociais" publicados pelas igrejas, começando com as declarações da Conferência Geral Metodista e o Concílio Federal em 1908. Ao lado dessas afirmações houve muito estudo e discussão sobre este assunto, nas igrejas, por meio de publicações de folhetos, jornais e livros. Além disso o trabalho das igrejas no campo social foi muito ampliado. Este movimento foi fortalecido com a Primeira Guerra Mundial e tanto afetou o Protestantismo como a Igreja Católica Romana. Apesar da oposição e dificuldades o movimento prosseguiu até 1929, sempre com maior visão.


O culto tornou-se muito importante em muitas igrejas durante esse período. Formas de culto mais piedosas e atraentes foram introduzidas em larga escala. Em certas igrejas não litúrgicas apareceram fórmulas de oração e manuais de culto. Outro aspecto importante da vida das igrejas foi o grande esforço que realizaram no campo da educação religiosa, que foi ministrada tanto aos domingos como durante os demais dias da semana.


As modificações do pensamento religioso, por volta de 1890, a que nos referimos, deu lugar ao aparecimento de uma teologia liberal, um tipo de pensamento que era verdadeiro quanto ao Cristianismo histórico, mas defendia uma nova concepção quanto à inspiração da Bíblia com relação às novas descobertas da ciência.


Contra estes conceitos surgiu, a partir de 1910, o fundamentalismo, movimento que dava ênfase à exatidão e inspiração literal da Bíblia. Uma controvérsia amarga perturbou o protestantismo americano a partir de 1920, vindo quase a desaparecer em 1935.

Neste período a Igreja Católica Romana continuou a sua marcha. O seu grande crescimento numérico foi de certo modo retardado a partir de 1910, pela restrição da imigração. Mas esta igreja fortaleceu sua organização e desenvolveu sua atividade de todos os modos possíveis. Foram construídos muitos templos e fundadas instituições. Foram grandemente desenvolvidos a obra educativa e os serviços sociais; foi ampliado o número de periódicos e livros. A influência política e social da igreja romana foi firmada.


Durante esse tempo a igreja ortodoxa do oriente, pela primeira vez, tornou-se um elemento considerável na vida religiosa dos EE. Unidos por causa da imigração.
As várias igrejas dessa comunhão mantinham para com as igrejas protestantes uma atitude muito diferente daquela da igreja Católica Romana.


F - 1929 - 1940
Voltando a vista para a depressão de 1929, uma das maiores catástrofes econômicas da história, convencemo-nos de que ela marcou uma etapa decisiva, um ponto revolucionário na vida religiosa. Ainda não podemos ver, com toda a clareza, os resultados daquela desgraça. E os terríveis desastres que têm sobrevindo ao mundo desde então, escurecem nossa visão. Todavia não é difícil observarem-se certos resultados. .As igrejas americanas sofreram uma decisiva diminuição das suas rendas econômicas, redução esta que, de algum modo, tem limitado o trabalho e os planos dessas igrejas.


Vários aspectos do pensamento religioso têm-se modificado profundamente. Há muito menos confiança na capacidade humana para tornar este mundo, melhor, e muito mais confiança em Deus. O movimento de Unidade Cristã está muito mais fortalecido. Esta é a resposta do Cristianismo às dissensões que dividem o mundo. Verificaram-se cinco importantes uniões eclesiásticas: as Igrejas Congregacionais com as Cristãs, em 1931; a Igreja Americana com a Luterana, em 1931; os Ortodoxos com os Irmãos Hicksitas, em 1933; os Evangélicos com as Igrejas Reformadas Alemãs, em 1934; os Metodistas do Norte com os do Sul, em 1939. O Movimento Ecumênico tem sido uma força considerável nos Estados Unidos.


O espírito cristão nas igrejas americanas tem alcançado progresso em duas outras linhas fundamentais. Depois de 1929, os empreendimentos missionários foram, de algum modo, perturbados, tanto nos Estados Unidos como em toda a parte. Houve uma profunda alteração quanto a muitas questões relacionadas com as missões, que vieram afetar os métodos até então adotados.

As forças missionárias têm sido bastante reduzidas por falta de contribuição e os campos têm sido também reduzidos em virtude das grandes guerras que afetaram a vida no mundo inteiro. Apesar de tudo, não se tem verificado nenhum passo atrás no propósito missionário das igrejas. Nem tão pouco há qualquer passo à retaguarda no que respeita às obrigações do cristianismo para com a sociedade.


Há de fato, menos confiança no que o homem no que o homem pode fazer e um sentimento mais forte de dependência de Deus. Há igualmente uma visão mais clara do mal no mundo. Porém, mesmo nos tempos de tragédia e ruína, as igrejas mantêm seu propósito de lutar pela realização da vontade de Deus na vida humana.


BIBLIOGRAFIA

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• Bassett: "Short History of the United States."

Leia também
01 - A preparação para o Cristianismo
02 - O primeiro século
03 - A igreja antiga (100 - 313 A.D)
04 - A igreja antiga (313 - 590 A.D)
05 - A igreja no início da idade média (590 - 1073 A.D.) - PARTE 1
06 - A igreja no início da idade média (590 - 1073 A.D) - PARTE 2
07 - A igreja no apogeu da idade média (1073 - 1249 A.D.) - PARTE 1
08 - A igreja no apogeu da idade média (1073 - 1249 A.D.) - PARTE 2
09 - A igreja no apogeu da idade média (1073 - 1249 A.D.) - PARTE 3
10 - Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517 A. D.)
11 - Revolução e reconstrução (1517 - 1648 A. D,) - Parte 1
12 - Revolução e reconstrução (1517 a 1648 A.D.) - Parte 2
13 - Revolução e reconstrução (1517 a 1648 A.D.) - Parte 3
14 - O cristianismo na Europa (1648 a 1800 A.D.) - Parte 1
15 - O cristianismo na Europa (1648 a 1800 A.D.) - Parte 2
16 - O século dezenove na Europa
17 - O século vinte na Europa
18 - O cristianismo na América


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